quinta-feira, janeiro 25, 2007

Epílogo - Reflexões


Deitada no chão do quarto, a ruiva refletia sobre os acontecimentos dos últimos dias, enquanto Lady Bast, a meio amasso cinzenta que pertencia à Meri, aninhava-se preguiçosamente sobre o dorso de sua dona, com o focinho encaixado no umbigo parcialmente à mostra da menina.

Meridiana estava tão absorta em seus pensamentos que mal escutava o ronronar de felina. Ela ainda tinha na mente o avião do pai cruzando os céus de volta a Nova York, enquanto ela permanecia parada frente aos janelões do aeroporto Heathrow, observando o aeroplano se tornar um ponto cada vez mais distante e pequeno, enquanto se segurava para não deixar as lágrimas da saudade antecipada tomarem conta de seu rosto. Era uma dorzinha fina e aguda, mais intensa naquela manhã cinzenta de inverno, talvez pelo peso da conversa franca que ela e o pai tiveram sobre Ludovic e sobre alguns acontecimentos posteriores à morte de Elizabeth.

Deve ter sido, para o escritor, um fardo pesado de se carregar durante todas aqueles anos: a culpa que Nick guardava dentro dele, o receio de que Meridiana pudesse odiá-lo pelo que ele fez após a morte da esposa. Mas como ela poderia odiar o pai? A jovem bruxa não conseguia avaliar se ela teria tomado atitude semelhante se estivesse no lugar do escritor. O importante é que, depois, quando a tempestade finalmente passou no interior de seu pai, não houve um momento sequer que ele não estivesse ao lado de Meridiana quando ela realmente precisou. A relação dos dois tinha seus altos e baixos como qualquer relação entre pai e filha, mas Nick sempre foi seu porto seguro, não seria agora que as coisas iriam mudar. Não seria agora que ela o amaria menos.

A moça deixou a mente escapar para assuntos mais alegres e felizes. Perguntava-se se os todos amigos teriam gostado dos presentes de Natal. Os de Mina e Adhara forma particularmente difíceis. O da quintanista pela dificuldade prática de se encontrar uma capa de inverno adequada para uma domadora de dragões em uma megápole como Londres. No caso da prima, a dificuldade foi encontrar algo que não soasse frio e impessoal. A relação das duas avançara consideravelmente nos últimos meses, e a ruiva considerava a sonserina como uma amiga. É verdade que Adhara não era de falar muito sobre o que realmente pensava ou sentia, e, Meridiana precisava admitir que sob o verniz de extroversão, ela era alguém muito mais fechada que a maioria das pessoas poderia supor. Contudo, ela e a prima acabaram encontrando um modo de se entenderem mutuamente, e Meri estava feliz com isso. Desejava que o presente refletisse esses sentimentos. Felizmente acabou encontrando uma rara edição encadernada do livro "O Jardim Secreto". Desde que vira o filme com Adhara na noite que a prima passara em sua casa , a grifinória sempre associava a sonserina de olhos azuis-meia noite à Mary Lennox. E Meridiana desejava imensamente que a morena encontrasse um "jardim secreto" onde pudesse ser feliz. Talvez Dhara já o tivesse encontrado, pois ela parecia mais leve ao lado de Barton.

E Meridiana poderia finalmente dizer que compreendia plenamente aquela sensação, pois ela própria se sentia de modo similar em relação a Lucien...Era bobo, idiota e até um pouco ridículo, mas o mero pensamento de que ela e Lucien estavam juntos a fazia sorrir com tamanho contentamento que ela mal cabia dentro de si mesma....
Ridículo mesmo...Mas como costumava dizer aquele poeta português de quem Raven era fã: "Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas".
E ela nunca se sentiu tão feliz por ser tão ridícula, por estar amando.

Batidas na porta indicaram que Frida já estava pronta para levá-la até King Cross. Levantou-se ainda com um sorriso bobo a brincar-lhe nos lábios, aninhando Bast cuidadosamente em seu colo. Naquele momento, voltar para Hogwarts parecia-lhe a coisa mais maravilhosa do mundo.

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