quinta-feira, janeiro 25, 2007

Parte 2 - Encontro com o Inimigo


A cidade de Londres estava completamente adornada de enfeites de Natal. Milhares de trouxas andavam apressados pelas ruas fazendo as compras de fim de ano, alheios a guerra que transcorria entre os bruxos, em um mundo muito mais próximo do que eles imaginavam.

Contudo, mesmo entre os habitantes do mundo mágico, um clima relativamente mais ameno se instaurara. O tempo não estava tão ruim nas últimas semanas como foram nos últimos meses, desde que Voldemort retornara. Talvez, até os comensais da morte também comemorassem o Natal, pensavam os mais esperançosos. Ou, talvez, diziam os mais céticos, o Ministério estivesse vetando a publicação de notícias mais sombrias no Profeta Diário com a chegada dos feriados, como uma tentativa de instaurar uma sensação de falsa segurança entre os bruxos do país.

Nicholas Johnson, famoso escritor de fantasia, chegara recentemente dos Estados Unidos para passar as festividades com a filha, Meridiana. Apesar de trouxa, Nick estava consciente da nova guerra que se instaurara no mundo mágico, embora ainda não tivesse conhecimento pleno da gravidade de situação. Seu primeiro ímpeto foi tentar fazer com que a filha ficasse dentro de casa durante todo o feriado, mas Meridiana estava inquieta. Sentia-se trancafiada. Queria sair um pouco, ver a cidade e matar a saudade do pai.

Depois de muito conversarem ficou combinado que Meri poderia levar a sua varinha para o passeio caso surgisse uma emergência, mesmo sendo ela uma menor, e, também, Frida, tia da menina, emprestou-lhe o pequeno espelho de sua caixinha de pó compacto que ganhara anos atrás do falecido marido, Aldebaran. O espelho de Frida era, na realidade, um espelho de dois sentidos, portanto qualquer eventualidade, bastava Meri usar o artefato para pedir auxílio à tia.
Assim, pai e filha passaram o dia inteiro batendo perna pelos mais diversos estabelecimentos comerciais. Eram tantos detalhes a se resolver: cartões e presentes para comprar e enviar, também precisavam providenciar os ingredientes para a ceia de Natal, assim como para os tradicionais biscoitos natalinos que Meri preparava anualmente para seus mais queridos amigos.

No meio do passeio, o escritor teve a oportunidade de conhecer uma das mais recentes amigas da filha, Mina MacFusty, que estava acompanhada de um primo. Realmente ficara impressionado com os conhecimentos literários da garota. De certo modo, ela lembrava ele próprio na idade dela. Mas, o que realmente o deixara satisfeito fora ver a alegria da filha naquele encontro fortuito. Talvez Meridiana estivesse certa ao reclamar que ele era demasiadamente super-protetor. Se ela tivesse ficado em casa como ele queria, não teria se divertido como merecia.

Foi um dia agitado, mas, enfim, próximo da chegada do crepúsculo, quando as luzes natalinas começavam a serem acesas pelas ruas da cidade como pequenos vaga-lumes incandescentes, quase tudo estava resolvido. Só restava um último lugar onde pai e filha precisavam passar antes de voltarem para casa. Os dois se encaminharam para o simpático bairro de Notting Hill, onde Jack Mercury mantinha uma loja de colecionáveis, objetos que, embora velhos, não eram necessariamente antiguidades, mas sim artefatos que algumas pessoas gostam de colecionar, geralmente relacionados a algum programa de TV, filmes, ou coisas do gênero.

-Tem certeza que não quer que eu entre, filha?

-Claro que não, paizinho, nós já discutimos isso. Este ano eu quero escolher o seu presente de Natal sozinha. Quero que seja especial e também que seja uma surpresa. Se você for comigo vai estragar.- respondeu a ruivinha, marota.

-Tudo bem, já que você insiste, querida. - emendou o escritor, sorrindo ternamente para a sua menina.

-Olha só, pai, você não tem com que se preocupar. Qualquer coisa eu peço ajuda ao Sr. Mercury. Juro que não vou demorar.

-Sendo assim, Pimentinha, prometo a você que vou naquele café da esquina comprar alguma coisa para beber. Conhecendo você e o Jack, tenho certeza que isso vai levar horas.- brincou o escritor.

-Pai, você é mesmo um bobo, sabia? - falou Meri, dando um beijo estalado na bochecha de Nick, e, sumindo, em seguida, loja adentro.

Nicholas esperou ao lado da porta. Colocou as mãos no bolso e balançou o corpo para frente e para trás para se aquecer. Aquele começo de noite estava muito mais frio que o esperado. Ele falara brincando sobre o Café, mas agora começava a lhe parecer uma excelente idéia. Em dois tempos iria até lá comprar um capuccino para si e quem sabe um chá para Meri. A filha nem perceberia a sua saída até que ele estivesse de volta.

Mal intencionou partir, o escritor percebeu que do outro lado da rua um homem o observava. Um homem bastante familiar. Nick passara o dia após o enterro de Elizabeth queimando todas as fotos em que o cretino aparecia sorrindo do mesmo modo cínico que estava agora. Mesmo nunca tendo o visto pessoalmente, era impossível para Johnson não reconhecer o assassino de sua esposa: seu cunhado Ludovic Black-Thorne.
Determinado, Nicholas não se deixou intimidar. O ódio mortal que sentia por aquele homem era o bastante para lhe dar coragem para atravessar a rua, com passos firmes, e encara-lo bem nos olhos.

-É muita ousadia sua sair do esgoto em que costuma se esconder e mostrar sua cara imunda por aqui - falou o escritor, olhos crispando de raiva incontida.

-Ora, ora, para um macaco sem poderes até que você tem certa coragem. Ou será mera estupidez? Saiba que muita gente de maior valor que você já morreu em minhas mãos por muito menos. - respondeu Ludovic com o seu usual e irritante tom de ironia.

-O que é que você está fazendo aqui, seu porco imundo? - continuou o trouxa, sem demonstrar qualquer sinal de temor.

-Isso é jeito de me dar as boas-vindas, cunhadinho? - comentou o comensal, sorrindo sardonicamente.

Nicholas mal conseguia suportar a presença do irmão mais velho de Elizabeth diante de si. Durante dezesseis anos tentou imaginar como seria estar cara a cara com aquele monstro. Perdera a conta de quantas vezes durantes todos aqueles solitários anos remoera dentro de si aquela possibilidade. E agora, finalmente, a coisa era real. Fechou o punho com força, esperando a oportunidade certa para desferir o golpe. Era pouco diante do rancor imensurável que sentia por aquele maldito que destruíra a sua família.

-Seu cretino filho de uma... Como pôde matar a minha Betsy seu monstro maldito? Eu devia...

Ludovic, que percebera as intenções de Nicholas, apenas lançou ao cunhado um gélido olhar.

-Você não vai fazer absolutamente nada, seu sangue-ruim medíocre. Não ousaria, pelo menos não enquanto a minha adorável sobrinha estiver totalmente desprotegida no interior daquela loja. Sem falar, é claro, que, sentimentalóide e fraco como você é, nunca arriscaria a vida de todos esses trouxas insignificantes que estão à nossa volta, não?

Nicholas se refreou. Era verdade, havia muita gente inocente por perto. E também havia Meri... Ludovic havia sido bastante perspicaz. Não havia nada que o trouxa pudesse fazer no momento.

-E respondendo à sua pergunta, cunhadinho, como eu te disse naquela carta, anos atrás, eu só matei a minha irmãzinha amada para salva-la, para purificá-la da mácula de ter se envolvido com um animal imundo como você. E como você também já sabe, estou aqui por Meridiana, para transformá-la em uma verdadeira Black-Thorne. Apesar de todos esses anos sendo estragada por você, ainda existem boas chances de ela ouvir o chamado do sangue.

Nicholas tremeu por dentro. Se lhe era insuportável ficar tão próximo assim do assassino de sua esposa, pior era a sensação de pensar no que aquele ser hediondo poderia fazer com sua filha.

-Se você ousar tocar em um fio de cabelo da minha menina, eu te juro que... - a ira presente em cada uma das palavras proferidas pelo trouxa.

A fala de Nick foi interrompida pela estrondosa e desdenhosa gargalhada do comensal.

-Você não sabe, não é? Ela não te contou, provavelmente porque Frida e Kamus a convenceram.- respondeu Ludovic, em puro deboche.

-Não me contou o que, seu cretino?

-Que eu e minha querida sobrinha já tivemos a nossa dança em junho passado. Nós nos encontramos nas cavernas de Hogsmeade e por muito, muito pouco Meridiana não se tornou a minha mais nova pupila.

-Você está mentindo. - disse, Nick, em um tom ligeiramente alterado, cerrando os punhos com força para tentar se controlar.

-Você sabe que não. E sabe por que ninguém te falou nada? Porque todos sabem que você é um trouxa patético e inútil, que seria muito fácil para mim me aproximar de você e usa-lo como isca para atrair Meridiana.- continuou Ludovic a falar, em meio a um sardônico sorriso a brincar-lhe nos lábios.

-Eu não tenho medo de você, Ludovic, nunca tive.- Nicholas fervia em sua fúria.

-Pois deveria. E saiba que só não te levo comigo ou te mato agora mesmo porque preciso que você leve um recado para os dois traidores. Diga a Frida e Kamus que eu não me esqueci deles. Vou pegar cada um na hora certa. Faço questão de matar a concubina do imundo do meu irmão pessoalmente. E quanto ao meu querido priminho, tenho um castigo especial por ter me deixado apodrecer em Azkaban. Diga a Kamus que terei o prazer de fazer com a filhinha dele o mesmo que o primo Rigel fez tão bem com a mestiça com quem Kamus se envolveu. Vou torturar lentamente a pequena Adhara, até que ela me implore para morrer.- disse o comensal de modo calmo e seco, como se não falasse de assassinatos e torturas, mas de um assunto tão banal quanto o clima frio que circundava a ele e o cunhado.

Nicholas cerrou os punhos com ainda mais força. Aquele homem era completamente insano. Todos eles corriam sério perigo enquanto Ludovic estivesse à solta. Embora estivesse ressentido sobre a omissão do encontro entre Meridiana e seu tio, ele conseguia compreender tal decisão por parte de Frida e Kamus. Eram as mentes de um auror e uma ex-espiã trabalhando, e como tal, a decisão mais lógica seria minimizar as possíveis vantagens do inimigo. Se Nicholas soubesse do fato antes, certamente teria voltado muito mais cedo para a Inglaterra e não teria descansado enquanto não encontrasse o cunhado, mesmo que morresse no processo. Mas agora, percebia que essa seria uma atitude insensata. Precisava pensar em sua filha.

-Já que você está nos dando recados, seu bastardo, também vou lhe dar o meu. Se você ousar se aproximar novamente da minha filha, eu te juro, te juro pela memória de Elizabeth, que vou atrás de você até o fim do mundo se preciso e acabo com a sua raça.

-Veremos, verme, veremos - respondeu Ludovic, virando calmamente as costas para Nick, e sumindo no meio da multidão que os circundava.

Nicholas ficou mais alguns minutos, ali, em total estado de estupor, até que ouviu a voz da filha lhe chamando. Virou-se e viu Meri, contente, segurando um embrulho entre as mãos. Sem dizer nenhuma palavra, aproximou-se de sua menina, beijou-lhe a fronte e depois lhe deu um forte abraço.

-Eu te amo, minha princesinha. - falou, comovido. - Quero que nunca se esqueça de que você é a pessoa mais importante da minha vida.

-Eu também te amo, pai. - respondeu Meri, deixando-se perder no abraço do pai, sem entender o que estava acontecendo.

Nicholas sabia que, agora mais do que nunca, ele, Frida e Kamus precisavam conversar seriamente sobre a ameaça de Ludovic que pairava sobre todos eles. Nick poderia não ser dotado de magia, mas faria o que pudesse para manter a sua menina sã e salva.

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