quinta-feira, janeiro 25, 2007

Parte 7 - Love Actually


-Meri? - Nicholas chamou enquanto dava pancadas leves na porta do quarto da filha, obtendo apenas o silêncio como reposta.

Fosse outra situação, o escritor teria esperado até Meridiana se acalmar e ela própria procura-lo para conversar, mas, a presença de Lucien na casa mudava um pouco a questão. Não podia simplesmente despachar o rapaz sem conversar com a filha primeiro. Assim, Nick abriu a porta, se aproximando de Meri, que estava deitada em sua cama.

A ruiva virou de lado. Não queria encarar o pai. Durante meses mentira para ele. Não falara de seu encontro com Ludovic em junho passado. Era como se tivesse traído a confiança de Nicholas.

O escritor sentou-se na beirada da cama, pousando a mão no ombro de Meridiana. Dizem que para os pais, seus filhos nunca crescem. Para Nick aquilo era a mais pura verdade, contudo, algumas vezes Meri se posicionava de forma madura e determinada, tanto que ele se esquecia de que ela era só uma menina, e tinha o direito de agir como tal.

-Filha...- começou ele, de modo suave - Você fez a coisa certa em não me contar sobre Ludovic...Foi inconseqüente em ir atrás dele, mas fez bem em seguir os conselhos de Frida e Kamus. Não estou com raiva, Pimentinha. E, bem, talvez depois de tudo que eu te contar. Sobre meu comportamento depois que sua mãe morreu, quem deva pedir desculpas sou eu.

-Não deve ter sido algo tão terrível assim... - ela murmurou, ainda de costas.

-Isso cabe a você decidir... - Nicholas continuou. - Mas depois teremos tempo de conversarmos com calma sobre Ludovic. Nesse instante tem um visita lá embaixo te esperando...Se você quiser falar com ele, claro.

-Visita? - a ruiva perguntou, virando-se finalmente para o pai.

-Lucien.

A respiração de Meridiana suspendeu por alguns segundos. Como era possível? O que ele poderia estar fazendo ali? O que ele queria com ela? Milhares de perguntas se formaram na cabeça de Meri. Mas ela sabia que só teria respostas para elas se descesse e conversasse com o rapaz.

-Tudo bem - disse ela, com uma voz aparentemente calma, embora um discreto tremor traísse seu nervosismo - Diga para ele que só vou trocar de roupa e desço.

***************


Meridiana desceu as escadas com o coração acelerado. Na pequena sala de estar da casa dos Johnson, um moreno estava sentado de modo ereto e elegante, possivelmente reflexo da criação requintada que ele tivera desde menino. A moça pensou consigo que eles deram tantas e tantas voltas em torno deles mesmos, e que, agora, provavelmente era a hora da verdade. Sentiu um pouco de medo sobre o que aconteceria entre eles, mas ao mesmo tempo se sentia grata por Lucien ter vindo. Esperar até o retorno à Hogwarts seria uma tortura para ela. De certo modo, sentia também um orgulho silencioso em relação ao rapaz que roubou seu coração. Ele tomara uma atitude, viera vê-la. Isso mostrava que ele tinha caráter e corria atrás do que queria. Não era um passivo diante do mundo, e Meri não esperava menos daquele por quem se apaixonara.

Lucien ergueu o rosto, sentiu o coração disparar ao ver a sua ruivinha entrar pelo arco que ligava a sala de estar ao corredor duplo que acessava as escadas por um lado e a entrada da casa pelo outro. Sentiu um nó comprimir-lhe a garganta, mas se chegara até ali, não iria desistir no último minuto. Queria e precisava conversar com Meridiana. Levantou-se do sofá para recebe-la.

-Vou deixa-los sozinhos para conversarem mais a vontade. - a voz de Nicholas se fez ouvir.

O austríaco cumprimentou o escritor com um meneio de cabeça.

-Foi um prazer conhece-lo, Sr. Johnson.

-O prazer foi meu, Lucien - o escritor respondeu, dirigindo-se, em seguida, para cozinha.

A ruiva ficou parada no meio da sala. Os braços cruzados na altura do peito. Estava completamente aturdida. Não sabia como começar aquela conversa, portanto, preferiu fitar o rapaz esperando que ele desse o primeiro passo. O lufano, por sua vez, também fitava a moça tentando encontrar as palavras certas para dizer a ela, mas nada lhe ocorria. Portanto, achou que o melhor seria ir direto ao ponto.

-Eu preciso saber, Meri, por que você está fugindo de mim.- começou Lucien.

A ruiva suspirou, resignada. O pai tinha razão. Ela tinha que parar de ter medo de ser feliz. E só poderia alcançar a felicidade depois de conversar com Lucien, pois, independente de como as coisas se ajeitassem ao fim de tudo, só após aquela conversa poderia decidir qual rumo seguir em sua vida.

-Eu não estou fugindo, Lucien. - disse ela, baixinho - Não mais...Eu só...eu...não sei o que dizer para você...

Por mais que lhe fosse difícil, Meridiana manteve seu olhar firme sobre o rapaz. A necessidade de que ele soubesse que, daquela vez, ela estava sendo completamente sincera, urgia dentro dela.

-Eu só quero entender, Meri. - dizia o lufa-lufano. Apesar do nervosismo latente, sua voz era serena, porém firme. Não queria que a moça lhe interpretasse mal. - Entender por que me rechaçou daquele modo depois que nos beijamos na noite da festa do Slughorn. Só me fala isso, e depois, se você assim desejar, te juro que nunca mais te procuro novamente.

A jovem feiticeira cerrou seus olhos verdes tentando encontrar forças para dizer tudo o que estava guardado dentro dela, tudo o que o rapaz queria ouvir, mais do que isso, tudo o que ele precisava saber.

-É tanta coisa junta... - começou ela - Mas, você tem razão...É justo que você saiba...A verdade é que eu gosto de você...muito. Mais do que eu mesma gostaria de admitir, dadas as circunstâncias. Mas não sei se é certo ficarmos juntos... Primeiro porque eu sou, de certo modo, uma pessoa marcada...Não seria seguro para você ficar ao meu lado...

-Eu sei sobre seu tio. - cortou o rapaz, que já imaginara que uma das razões para Meridiana evitá-lo com tanto afinco era Ludovic.

-COMO?! - a ruiva surpreendeu-se completamente.

Lucien fixou seus olhos bicolores nos dela para que Meridiana soubesse que tudo o que ele diria a seguir era a mais completa verdade, que ele compreendia as razões dela, embora não concordasse com as mesmas.

-Foi seu tio quem atacou meu pai no último verão. Por causa disso, a Sel acabou me contando o que aconteceu com você na caverna, em junho passado, quando ele quase a seqüestrou. E antes que você cogite qualquer relação entre os dois fatos, o ataque de Black-Thorne ao meu pai foi apenas uma infeliz coincidência.

-E você sabia esse tempo todo? - disse ela, quase em choque, sentando-se no sofá da sala - Por que não me disse?

O rapaz sentou-se ao lado de Meridiana, ainda hesitante de aproximar-se dela. Não queria parecer invasivo, não naquele momento em despejava sobre ela várias das verdades que ele escondera nos últimos meses.

-Porque, se eu tivesse te contado, conhecendo como eu te conheço, a sua primeira reação seria se afastar de mim...Como está fazendo agora.

A grifinória mordeu o lábio inferior, como sempre fazia em situações tensas como aquela. Fitava o chão refletindo sobre o que o lufa-lufano acabara de lhe contar.Lucien estava certo, ela certamente teria se afastado do rapaz para protege-lo de qualquer mal que acreditasse estar vinculado à ela.

O austríaco afastou uma mecha que caia sobre os olhos de Meridiana antes de prosseguir.

-Será que você não entende, Meri, que você é a pessoa mais importante para mim - disse ele com uma voz ainda mais firme que a do início da conversa. - Ficar do seu lado é uma escolha minha. Eu te amo, não importa os perigos que isso possam me trazer. Eu sei me cuidar, você não precisa me proteger.

-Mas... e a Sel? - perguntou Meridiana, voltando-se para Lucien, com os olhos verdes ainda muito arregalados ante tantas surpresas. -Ela gosta de você, não?


Lucien estreitou os olhos. Então ele e Selune estavam certos. Meridiana realmente vira o falso beijo que eles deram em Hogsmeade. Foi por isso que Meri não aparecera no encontro que marcaram no Três Vassouras.

-Você viu, não viu? - o rapaz balançou a cabeça com tristeza. Tantos desencontros por causa de uma coisa tão boba. - Droga...Eu não acredito! Não era para ter sido daquela maneira.

-Então, aconteceu mesmo, não foi? O beijo...foi de verdade? - ela perguntou, tentando manter o tom neutro para mascarar a mágoa que sentia.

-Tão verdade quanto as cartas que o Jean Paul te enviou nos últimos dois meses... A Raven acabou me contando que já faz uns quatro meses que ele te mandou uma coruja pedindo desculpas por tudo e dizendo que arrumou uma nova namorada. - respondeu Lucien, sem parecer nem um pouco magoado com a mentira que a ruiva lhe contara, mas sim preocupado em esclarecer o mal-entendido ocorrido graças à cena no Três Vassouras. - Eu te juro, Meri, que o que você viu foi uma pegadinha que eu e a Sel armamos para o McLaggen, já que ele não largava do pé da minha irmã...Não era para ninguém ter me visto, nem o McLaggen...Ele só precisava ver a Sel com alguém...A gente nem se beijou de verdade! Ela beijou o canto da minha bochecha! Eu ia te contar depois...Achei até que ia dar umas boas risadas por conta disso, já que também não gosta dele. Cara, eu não acredito...Eu ia me declarar para você naquele dia.

As faces de Meridiana começaram a ficar mais vermelhas que os seus cabelos, mas não por embaraço ou timidez, mas de pura raiva. Se não fosse esse mal-entendido, ela e Lucien poderiam estar juntos desde outubro. Como é que ele pôde?

-Isso foi tão...tão...idiota, Lucien! Será que você e a Sel não pensaram nas conseqüências da brincadeira de vocês? - Meri praticamente gritou - O quanto eu...Eu não acredito...Eu ainda contei para o...minha Morgana, eu não acredito...E todo esse tempo...

A ruiva tentava se controlar, mas em vão, estava cansada demais para represar toda a frustração e tristeza que sentira nos últimos dois meses. Começou a chorar quase compulsivamente, sem se importar com a presença do rapaz, ou com o fato de que seu pai e sua tia poderiam escuta-la da cozinha próxima.

Lucien olhou desesperado para Meridiana, então, a puxou, carinhosamente para perto de si, encostando a cabeça dela em seu peito. Ela tentava sufocar os soluços, mas isso fazia apenas com que eles aumentassem. Os olhos bicolores do rapaz se estreitaram mais uma vez. Ele sabia que fora um estúpido completo. Mas até aquele momento não tivera plena consciência do quão grave foram as conseqüências dos seus atos.Quase perdera Meridiana. Pior do que isso, fizera a pessoa que mais lhe importava na vida chorar e sofrer desnecessariamente.

-Será que um dia você vai me perdoar, fraulëin? - disse ele beijando-a por cima dos cabelos vermelhos - Eu nunca quis te fazer chorar...Tudo o que eu queria era colocar sempre um sorriso no seu rosto e poder segurar a sua mão quando isso não fosse possível. Mas eu estraguei tudo...

Meridiana levantou os olhos muito vermelhos, encarando o moreno. O arrependimento estava estampado em cada linha do rosto de Lucien. O austríaco soltou Meri por alguns segundos. Com as pontas dos polegares, e em silêncio, limpou as faces molhadas da moça, então, com um toque firme, porém paradoxalmente gentil, puxou o rosto dela para perto do seu, pousando seus lábios sobre os dela. Meridiana fechou os olhos, correspondendo ao beijo com a mesma intensidade e entrega com que fizera na noite da festa do professor Slughorn.

-Eu realmente te amo, fraulëin. - foi a primeira coisa que ele disse ao separar-se dela. - Mas depois do que fiz, talvez eu não tenha mais o direito de te pedir para namorar comigo.

A ruiva meneou a cabeça algumas vezes.

-Eu admito que fiquei magoada e que o que vocês fizeram foi imbecil, mas não sou santa nessa história. Se as coisas chegaram a esse extremo, parte da culpa também é minha. Se eu não tivesse sido tão cabeça dura, se eu tivesse conversado com você ou com a Sel....

-Mas ficar remoendo o passado não vai adiantar em nada - Lucien retorquiu - Nós dois erramos, ponto final. Agora temos que olhar para frente.

-E começar do zero? - Meridiana completou.

Lucien sorriu, pousando mais uma vez a mão no rosto da sua ruivinha.

-Se você quiser.

Foi a vez, então, de Meridiana aproximar-se de Lucien, beijando-o , sem medo algum. O rapaz aninhou sua ruivinha em seus braços, deixando-se levar por aquele tão esperado momento. O beijo da moça era resposta suficiente para ele.

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