quinta-feira, janeiro 25, 2007

Parte 6 - Manhã de Natal


Com a cabeça apoiada na lateral da janela, o rapaz observava o próprio reflexo no vidro ligeiramente opaco. Lá fora, flocos de neve caiam, pesados, sobre a capital inglesa. Lucien sorriu com certa melancolia ao perceber que o conjunto que sua imagem e a neve faziam dava a impressão de que a pequena tempestade glacial ocorria dentro dele. A ironia é que aquilo não estava muito distante do modo como se sentia.
Faziam cinco dias desde que beijara Meridiana na festa promovida pelo atual mestre de Poções. E a reação dela foi exatamente oposto do que ele esperava. E, pelas conclusões que ele e Selune chegaram, a culpa era do próprio Lucien. Tudo por causa de um rompante de inconseqüência e imaturidade. Por causa de uma brincadeira que, a princípio, ele acreditou ser inocente.
Batidas leves fizeram com que ele desviasse seu olhar para a porta do quarto. Um par de olhos azuis celestes o fitavam com preocupação.

-Mére quer saber se não vai descer para abrir os presentes de Natal. Todos já estão reunidos.

O jovem austríaco sorriu tentando tranqüilizar a moça.

-Eu já estou indo. Só estava pensando um pouco, schwester.

A loira adentrou o quarto por completo, cerrando a porta atrás de si. A expressão no rosto ainda denotava preocupação.

-Sei que sou um pouco lenta para notar as coisas ao meu redor, mas não sou criança, sabia? Não precisa ficar escondendo o que sente de mim.

O rapaz olhou com carinho para a "irmã". Às vezes Selune o surpreendia. Por trás daquele jeito avoado, existia alguém mais capaz do que deixava transparecer.

-O que foi dessa vez? - a francesinha continuou perguntando - Sua mãe ou Meri?

Lucien apoiou-se na mesa de estudos próxima à janela, antes de responder.

- A segunda - disse ele, em meio a um sorriso inconformado.

-Em poucos dias vamos voltar para Hogwarts, Luc. Assim que vocês se encontrarem, se acertam - a grifinória falou, tentando reconfortar o rapaz.

Lucien apertou com força a beirada do móvel de madeira escura. Ele não poderia esperar o retorno à escola. O espaço entre o Natal e o dia cinco de Janeiro, quando finalmente retornariam a Hogwarts, parecia uma eternidade para ele. Aquela era a hora de definir sua relação com Meridiana. Agora que ele sabia que o coração dela estava livre, não havia razões para se refrear. Com um olhar de determinação, Lucien ergueu o rosto, encarando mais uma vez Selune.

-Sel, preciso de um favor seu. Preciso do endereço da Meri. Vou resolver isso hoje, de uma vez por todas.

***************


A ruiva espreguiçou-se na cama, sentindo-se imensamente bem. A ceia da noite anterior havia sido memorável. Ficara verdadeiramente feliz por ter conhecido Marion Peterson, a antiga melhor amiga de sua mãe. Despediram-se com a promessa de que manteriam contato sempre que possível.

E agora era manhã de Natal. Meridiana adorava aquele data em questão. Abrir presentes debaixo da árvore era tradição que se mantinha até hoje na casa dos Johnson. Levantando-se com renovada animação, a moça de cabelos carmim desceu ainda descalça e de pijamas, e, apressada, dirigiu-se para o andar inferior. Sentou-se debaixo da árvore, indecisa sobre qual pacote abrir primeiro.

-Se eu fosse você, começava pela caixinha dourada à sua direita - a voz do pai se fez ouvir logo atrás dela. - A senhora Atkins deixou com Frida antes de se mudar em definitivo para Gales para morar com a sobrinha.

Meri sorriu quase intuindo o que deveria ser seu presente. Sua vizinha, Florisbella Atkins, fora parte marcante de sua infância. Tinha à senhora como uma avó, e sabia que a recíproca era verdadeira.
O olhar da menina se iluminou ao constatar que estava certa ao abrir a caixinha e ver um par de chaves prateadas presas por um pequeno chaveiro de coelho.

-O cadillac azul! - ela quase gritou de contentamento.

Nicholas assentiu.

-No próximo verão, quando eu voltar, te ensino a dirigir.

O sorriso no rosto de Meridiana ampliou-se ainda mais ante a promessa paterna. As orbes esmeraldinas voltaram, então, a esquadrinhar os demais presentes, tentando adivinhar quem poderia tê-los enviado, até pousaram em um envelope assustadoramente familiar. Com um nó na garganta, o apanhou, abrindo-o com cautela. Meri nem se deu ao trabalho de ler seu conteúdo, sua atenção recaiu para a assinatura do remetente no fim da missiva: Ludovic Black-Thorne.

Fitou o pai com um olhar assustado, e, sem dizer palavra alguma, correu escada acima.

-Meri! Meri! - Nick chamou a filha, apreensivo.

O escritor tencionava ir atrás de sua menina, mas precisava saber o que desencadeara um rompante tão intenso em Meridiana.

Abaixou-se, pegando a carta que a filha largara no chão, compreendendo de imediato o que acontecera. A porta da cozinha se abriu, revelando a figura esguia e elegante de Frida. Ao ver Nicholas segurando o pergaminho prata, também ela compreendeu que algo muito errado havia acontecido.

-Onde está Meri? - a polonesa perguntou.

Nicholas desgrudou os olhos do papel, notando, apenas naquele momento, que não estava mais sozinho.

-Correu escada acima...deve estar no quarto dela.

-Ele escreveu para ela de novo, não foi?

-De novo? - Nick arqueou a sobrancelha.

-No aniversário dela, Ludovic também mandou um cartão de felicitações. - a loira explicou - Talvez fosse melhor você ir conversar com ela.

Nick concordou, já se encaminhando para a escada quando o som estridente da campanhia se fez notar. Ele, então, dirigiu-se para a porta de entrada. Ao abrir a porta, deu de cara com um rapaz moreno, de olhos bicolores. Pela descrição da filha, imediatamente deduziu que aquele era Lucien von Weizzelberg . Definitivamente aquela manhã de Natal estava bastante agitada.

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